Mielomeningocele, Meningocele, Lipomielomeningocele, Diastematomielia, Medula presa, Sinus dérmico e Espinha bífida oculta (oculta sem envolvimento neural)

Mielomeningocele


A Mielomeningocele, mais conhecida como Spina Bífida, é uma malformação congênita da coluna vertebral da criança, dificultando a função primordial de proteção da medula espinhal, que é o "tronco" de ligação entre o cérebro e os nervos periféricos do corpo humano. Quando a medula espinhal nasce exposta, como na Mielomeningocele, muitos dos nervos podem estar traumatizados ou sem função, sendo que o funcionamento dos órgãos inervados pelos mesmos (bexiga, intestinos e músculos) pode estar afetado.
O primeiro passo para o tratamento é o fechamento que é realizado pelo neurocirurgião, visando a proteção e evitando traumas e infecções (meningites). Essa intervenção de um modo geral dá-se nas primeiras horas de vida. Cerca de 90% dos pacientes com Mielomeningocele poderão apresentar durante a vida algum tipo de problema urológico que pode variar desde infecções urinárias até a perda de função renal e insuficiência renal com necessidade de diálise e transplante renal. Com os avanços em Urologia pediátrica hoje é possível prevenir estas complicações com exames especializados e acompanhamento rigoroso. É muito importante que crianças vítimas desta patologia sejam acompanhadas por profissionais realmente envolvidos com a mesma. Muitas vezes medidas como manutenção de antibióticos profiláticos por tempo prolongado, orientações de esvaziamento da bexiga, eventualmente com auxílio de sondas em intervalos de tempo regulares podem fazer a diferença. É importante que as famílias entendam bem esses tipos de procedimentos.
Como percebemos, a Mielomeningocele, ou Spina Bífida, é um mal de natureza incapacitante dos mais sérios. Leva, de um modo geral, a deficiências múltiplas das mais limitadoras e a vidas de curta duração. Uma das formas encontradas pela medicina moderna para reduzir drasticamente os problemas ocasionados pelo mal é por meio de uma intervenção cirúrgica pioneira no próprio interior do útero materno, em geral realizada quando o feto tem apenas 21 semanas de gestação. 

Numa dessas cirurgias, o fotógrafo hospitalar Michael Clancy documentou o procedimento cirúrgico pioneiro. Nunca imaginou que sua câmara registraria talvez o mais eloquente apelo a favor da vida, porque captou o momento exato em que o bebê tentou segurar um dos dedos do médico que o estava operando.
A foto, espetacular, foi publicada por vários jornais dos Estados Unidos e a sua repercussão cruzou o mundo até chegar à Irlanda, por exemplo, onde se tornou uma das mais fortes bandeiras contra a legalização do aborto.
A mãozinha que comoveu o mundo pertence a Samuel Alexander, cujo nascimento ocorreu no dia 28 de dezembro de 1992 (no dia da foto ele estava com apenas quatro meses de gestação!). Quando pensamos nesse nascimento, a foto fica ainda mais eloquente, porque registra a vida do bebê literalmente presa por um fio. Os cirurgiões sabiam que não conseguiriam mantê-lo vivo fora do útero materno e que deveriam tratá-lo lá dentro, corrigindo profilaticamente a parte baixa de sua coluna vertebral – uma anomalia que acabaria sendo fatal – voltando a fechar o útero, para que o bebê continuasse o seu crescimento normal.

Por tudo isso, a imagem foi considerada como uma das fotografias médicas mais importantes dos últimos tempos e a recordação de uma das cirurgias mais extraordinárias registradas no mundo. 



É a forma mais comum de espinha bífida cística e também a mais grave. Além das anomalias espinhais, a porção mal formada da medula espinhal se exterioriza pelo defeito e fica exposta ao ambiente. A mielomeningocele é geralmente revestida por um cisto desprovido de pele íntegra, que contem líquido céfalo-raquidiano (LCR) em seu interior. Nestes casos, pode haver contaminação do sistema nervoso por bactérias, daí a necessidade de correção cirúrgica. Mais de 80% dos portadores de mielomeningocele têm hidrocefalia associada.

(Ultra-sonografia mostrando mielomeningocele (setas))

A hidrocefalia deve-se ao acúmulo excessivo de líquido céfalo-raquidiano dentro do encéfalo e, nos casos de mielomeningocele, deve-se à obstrução os fluxo deste líquido em alguns locais do sistema nervoso. Esta obstrução é geralmente provocada por outra anomalia que se associa à mielomeningocele e que é denominada malformação de Arnold-Chiari ou Malformação de Chiari do Tipo II. Nesta malformação, as estruturas que normalmente estariam contidas na porção mais inferior do crânio, encontram-se parcialmente acomodadas dentro da coluna cervical e podem interferir com a circulação do LCR. A malformação de Chiari pode, mais raramente, ser responsável por outros problemas em recém-nascidos, lactentes e crianças mais velhas.

Portadores de mielomeningocele podem se apresentar com alterações neurológicas que dependem do nível em que a lesão está localizada. De uma maneira geral, quanto mais baixa a localização da lesão, menor o grau de comprometimento neurológico, pois menor será o número de raízes nervosas acometidas. Assim sendo, pacientes com lesões localizadas na porção mais inferior da coluna vertebral poderão ter movimentos preservados, mas ainda assim terão dificuldade para controlar a emissão de urina (bexiga neurogênica) e de fezes. Por sua vez, as lesões localizadas na porção média da coluna vertebral poderão provocar paralisia completa das pernas. Os portadores de mielomeningocele freqüentemente exibem alterações ortopédicas como pé torto e luxação do quadril. Além dessas, outras malformações da coluna vertebral, medula espinhal, encéfalo e nervos periféricos podem estar presentes, o que faz com que a mielomeningocele seja a mais complexa de todas as malformações congênitas compatível com sobrevida prolongada.

PREVENÇÃO - Há mais de 10 anos sabe-se que ingestão de uma vitamina chamada ácido fólico protege o bebê contra o aparecimento da espinha bífida.O ácido fólico deve ser ingerido por todas as mulheres em idade fértil. É sabido que uma dose diária de 0,4 mg desta substância é capaz de reduzir acentuadamente a incidência de mielomeningocele e de outros defeitos do tubo neural. Alguns países além de recomendar a suplementação dietética determinaram o enriquecimento de determinados alimentos com ácido fólico. Atualmente a SBNPed empenha-se em propor medidas semelhantes às autoridades sanitárias brasileiras.



TRATAMENTO - O tratamento da mielomeningocele começa pela correção do defeito no dorso. O objetivo é restabelecer as barreiras naturais que isolam o tecido nervoso do meio externo e a operação deve ser realizada o mais precocemente possível, para reduzir ao máximo a incidência de infecções. O aumento exagerado do crânio indica a presença de hidrocefalia, para a qual o tratamento cirúrgico é a colocação de uma drenagem (válvula) que envia o excesso de líquido céfalo-raquidiano para o interior do abdome ou do coração.

(Derivações valvulares)

O tratamento da mielomeningocele envolve diversos outros especialistas além do neurocirurgião e do pediatra. Devido aos problemas causados pela bexiga neurogênica, é fundamental a participação de urologistas. Com freqüência, a urina deverá ser retirada de dentro da bexiga com o auxílio de sondas (cateterismo intermitente limpo), o que pode ser realizado pela própria família ou pelo próprio paciente, inicialmente com a supervisão de enfermeiras. As deformidades dos membros inferiores (luxação do quadril, pé torto) são tratadas por ortopedistas e muitas vezes é necessário o uso de aparelhos especializados ou cirurgias corretoras. O acompanhamento por neurologistas e por psicólogos é também muito importante, pois portadores de mielomeningocele muitas vezes têm problemas de desenvolvimento e de adaptação social. O auxílio de fonoaudiólogos e assistentes sociais é indispensável. Desta maneira, a tendência hoje é a de criar centros de atendimento multidisciplinar a portadores de espinha bífida, evitando que estes sejam obrigados a se deslocar exageradamente em busca dos cuidados básicos necessários.
É importante que o trabalho de reabilitação seja iniciado precocemente. A fisioterapia pode prevenir deformidades ortopédicas provocadas por posicionamento anormal dos membros inferiores, além de estimular precocemente o sistema nervoso das crianças.

COMPLICAÇÕES - Portadores de mielomeningocele podem apresentar piora neurológica por diversas causas, ao logo de sua vida. O aumento no tamanho da cabeça (em lactentes), a ocorrência de dores de cabeça, vômitos, sonolência ou perda de habilidades já adquiridas sugerem funcionamento defeituoso da válvula e piora da hidrocefalia. Febre, irritabilidade e vermelhidão sobre o trajeto da válvula geralmente indicam infecção na mesma. Nos dois casos é necessário procurar seu médico, pois uma cirurgia pode ser necessária. A chamada malformação de Arnold-Chiari pode provocar o aparecimento de sintomas que necessitem de tratamento cirúrgico. No primeiro ano de vida, as manifestações mais comuns são a dificuldade para engolir alimentos, chiado (estridor), e perda da respiração (apnéia) durante as quais a criança pode ou não ficar arroxeada. Crianças mais velhas geralmente se queixam de dores na nuca, falta de coordenação e fraqueza nos braços. O entupimento da válvula pode ser responsável pelo quadro. Em algumas situações uma cirurgia pode ser necessária. A piora na marcha, o aparecimento de paralisias, dores na coluna, mudança no tipo de bexiga neurogênica, piora da escoliose e demais deformidades ortopédicas podem se relacionar à medula presa. Nesta situação a parte final da medula fica presa à cicatriz cirúrgica, estirando-se cada vez mais à medida que a criança cresce e provocando o aparecimento de novos sinais e sintomas. Nestes casos, uma cirurgia também pode ser necessária.
Portadores de mielomeningocele são especialmente propensos a alergia ao látex, que é o principal componente da borracha. Assim sendo, o contato com luvas de borracha, bolas de soprar, elásticos, etc. podem levar ao aparecimento de alergias em mais da metade das crianças. Os sintomas variam desde simples corizas até formas mais graves como bronquites e dificuldade respiratória, passando por coceiras e urticárias.Sempre que possível, e principalmente em casos de manifestações alérgicas anteriores, esses produtos deverão ser evitados e substituídos por outros de material inerte.

O FUTURO DOS PORTADORES DE MIELOMENINGOCELE - Portadores de espinha bífida cística irão requerer atenções especiais ao logo de toda a sua vida.
Hoje em dia, os cuidados dispensados aos problemas urinários reduziram acentuadamente o número de complicações. Da mesma forma, os cuidados ortopédicos e fisioterápicos permitiram que um grande número de crianças pudesse andar com o auxílio de aparelhos ortopédicos.De modo a facilitar a deambulação, é importante evitar que as crianças se tornem obesas. Embora algumas sejam intelectualmente comprometidas, o desenvolvimento dos portadores de mielomeningocele não é significativamente diferente do restante da população. 
Algumas crianças apresentam dificuldades de aprendizado em áreas específicas que, em grande número, podem ser contornadas. Uma vez que um número cada vez maior desses pacientes alcança a adolescência e a idade adulta, os problemas relacionados à sexualidade e à constituição de famílias tornaram-se importantes e devem ser discutidos em profundidade. Dentre os vários desafios que se apresentam, um dos mais importantes é a inclusão desses indivíduos em nossa sociedade, iniciando-se pelo livre acesso à educação e continuando-se pela sua inserção no mercado de trabalho.

O que é espinha bífida

A Espina Bífida é uma alteração do desenvolvimento da coluna vertebral por falta de fusão entre os arcos vertebrais, com ou sem protusão, e displasia da medula espinal e sua membrana.
Disrafismo Espinal é um termo genérico, reintroduzido na literatura médica por Lichtenstein, em 1940, e aplicado a grande variedade de malformações consequentes à defeituosa fusão do tubo neural. Estas anomalias podem afeta a pele do dorso, coluna vertebral, meninges, raízes nervosas espinais, medula e vísceras abdominais. A ocorrência dessa multiplicidade de lesões é função direta das camadas embrionárias afetadas.
Espina Bífida é a designação usada universalmente como sinônimo de disrafismo espinal, com propriedade, pois nessa malformação geralmente não há fusão dos arcos vertebrais posteriores. Classicamente, pode-se dividi-la em duas formas clínicas: Espina Bífida Oculta e Espina Bífida Aberta, sendo que a mielomeningocele é tida como Espina Bífida Aberta em que a malformação é granca e aparente ao nascimento.
O termo espinha bífida significa espinha com fenda, a qual é um fechamento incompleto na coluna espinhal. Em geral os três tipos de espinha bífida (do mais moderado ao mais severo) são:

1) Espinha bífida oculta. Há uma abertura em uma ou mais vértebras da coluna espinhal sem dano aparente à medula espinhal. Caracteriza-se por fechamento incompleto das lâminas de uma ou mais vértebras, sem protusão do conteúdo intra-espinal na superfície, e, por falta de cisto perceptível, pode haver defeitos cutâneos, déficit neurlógico e displasia da medula espinal.
2) Espinha bífida com meningocele. Os meninges, ou cobertura de proteção ao redor da medula espinhal, entram na abertura da vértebra em um saco chamado meningocele. Porém, a medula espinhal permanece intacta. Essa forma de espinha bífida pode ser reparada com pouco ou nenhum dano às vias nervosas. caracteriza-se por falta de fusão dos arcos vertebrais com saco meníngeo visível ao longo do eixo raquidiano. o saco contém LCR, duramáter e aracnóide, mas com ausência de tecido nervoso. Não há mielodisplsia, nem déficit neurológico. Durante o exame neurológico, não há provas de anomalias sensitivas, motoras, reflexas e transtorno dos esfíncteres.
3) Espinha bífida mielomeningocele. Essa é a forma mais severa de espinha bífida, na qual uma porção na própria medula espinhal projeta-se através da costas. Em alguns casos, sacos são cobertos com pele, em outros tecidos e nervos são expostos. Caracteriza-se pela falta de fusão dos arcos vertebrais com distensão cística das meninges e existência de tecido nervoso dentro do saco meníngeo. Há mielodisplasia com deficit neurológico demonstrável clinicamente, abaixo do nível da lesão.

Sintomas da espinha bífida

Os efeitos da espinha bífida mielomeningocele, o tipo mais sério, podem incluir fraqueza muscular ou paralisia abaixo da área da espinha onde o fechamento incompleto ocorreu, perda de sensação abaixo do fechamento incompleto, e perda de controle do intestino e bexiga. Adicionalmente, pode haver acumulo de fluido no cérebro, uma condição chamada hidrocefalia. 

Implicações da espinha bífida

Embora espinha bífida seja relativamente comum, até recentemente a maioria das crianças que nascia com o tipo mielomeningocele morria logo depois do nascimento. Atualmente, com a cirurgia que drena o fluido espinhal e protege a criança contra hidrocefalia podendo ser feita nas primeiras 48 horas de vida, a criança com mielomeningocele tem muito mais chances de sobrevivência. Porém, muito freqüentemente, essas crianças devem passar por uma série de operações durante a infância.
Muitas crianças com espinha bífida mielomeningocele precisam de treinamento para aprender a controlar as funções do intestino e bexiga. Algumas requerem cateterização, ou inserção de uma tubo para permitir a passagem da urina.
Em alguns casos, crianças com espinha bífida que também têm histórico de hidrocefalia, experimentam problemas de aprendizado. Intervenção precoce em crianças que experimenta problemas de aprendizado pode ajuda consideravelmente a prepara-las para a escola.
Crianças com espinha bífida mielomeningocele precisam aprender habilidades de mobilidade e muitas vezes requerem ajuda de muleta ou cadeira de roda. Limitações físicas decorrentes da espinha bífida podem ter efeitos profundos no desenvolvimento emocional e social da criança.

Meningocele

 Meningocele é o deslocamento frontal congênito ou adquirido das meninges, desacompanhadas de tecido neural. É causado devido a um defeito ósseo no crânio, ou até mesmo na coluna vertebral.
As Meningoceles intrassacrais são lesões raras, que podem determinar sintomas de compressão radicular. A meningocele vem, quase sempre, na totalidade dos casos, acompanhada de incontinência urinária. Após avaliação neuro-urológica e estudo urodinâmico, ficará diagnosticada arreflexia do detrusor, sendo aventada a hipótese de disrafismo espinhal. O diagnóstico de meningocele intrassacral oculta é evidenciado através de ressonância magnética. O paciente quase sempre é submetido à abordagem cirúrgica com boa recuperação pós-operatória.
O termo "meningocele intrassacral oculta" foi utilizado pela primeira vez na literatura por Enderle (1932), para descrever uma dilatação meníngea intrassacral, identificada à mielografia. Embora considerado inadequado por alguns autores, seu uso foi consagrado para definir lesões císticas intrassacrais compostas de tecido fibroso semelhante à dura-máter, geralmente acompanhado pela aracnoide, ocupando o canal sacral dilatado e ligado à extremidade do saco dural por trajeto fistuloso que, usualmente, permite fluxo livre de líquido cefalorraquidiano (LCR). Vários sinônimos têm sido utilizados para definir esta mesma lesão: meningocele intrassacral oculta, cisto intrassacral, cisto intraespinhal sacral, expansão do espaço subaracnoideo, cisto extradural meníngeo com ausência de fibras nervosas, meningocele intrassacral. Mais frequentemente, a lesão torna-se sintomática na idade adulta, sugerindo crescimento lento após o nascimento. A compressão radicular pelo cisto parece ser a causa dos sintomas, determinando dor lombar baixa, eventualmente com irradiação no trajeto radicular. Os fatores compressivos ou displásicos incidentes na região pélvica que prejudicam a função neural autonômica produzem o complexo sintomático, podendo ocorrer disfunção vesical e disfunção erétil.
A estocagem e eliminação periódica da urina devem-se à complacência ou contração da bexiga, à função dos esfíncteres externo e interno e à contração da musculatura da uretra e do assoalho pélvico. A motilidade da bexiga é controlada pelo simpático e parassimpático. Em humanos, a função parassimpática é a mais importante. A inervação parassimpática preganglionar e colinérgica origina-se nos segmentos sacrais S2, S3 e S4, acompanha os nervos esplâncnicos pélvicos e termina nas células ganglionares. As células ganglionares excitam a musculatura da bexiga através da acetilcolina e de outro neurotransmissor não colinérgico (provavelmente adenosina trifosfato), porém inibem o esfíncter interno da bexiga. O simpático pré-ganglionar tem origem nos segmentos T11, T12, L1, L2, L3, L4 e termina nos gânglios pré-vertebrais. As fibras simpáticas pós-ganglionares liberam noradrenalina. Produzem efeito inibitório sobre a musculatura do corpo da bexiga e gânglios parassimpáticos; no colo vesical e na uretra produzem efeito oposto. Os efeitos inibitórios são mediados por receptores beta-adrenérgicos e os excitatórios por receptores alfa-adrenérgicos. A musculatura do assoalho pélvico e do esfíncter externo são inervados por motoneurônios de S2, S3 e S4, que trafegam pelos nervos pudendos. Pelos pudendos passam também as fibras aferentes da bexiga e que conduzem aos centros medulares sacros a sensação dolorosa e as informações necessárias à percepção de plenitude.
Existe ainda o controle central da micção executado por meio do reflexo espino-bulbo-espinal que é coordenado por um centro pontino. O centro pontino da micção é modulado por centros diencefálicos e corticais. Todos os mecanismos acima assinalados dependem da integridade da inervação pélvica e podem ser prejudicados pela compressão causada pela meningocele intrassacral.
Relatamos um caso de meningocele intrassacral oculta, cuja apresentação inicial era caracterizada por disfunção vesical neurogênica.
As lesões císticas intrassacrais podem ser divididas em três tipos:

Tipo I - Meningoceles extradurais com ausência de fibras nervosas: A - cistos meníngeos extradurais (cisto aracnóideo extradural); B - meningocele sacral (meningocele intrassacral oculta).
Tipo II - Meningocele extradural com presença de fibras nervosas (cisto perineural de Tarlov).
Tipo III - Meningocele espinhal intradural.

A meningocele intrassacral tipo IB conforme a classificação proposta é considerada rara na literatura médica-neurológica. Existem poucos casos de lesões semelhantes publicados até a presente data. Vários autores fizeram revisões da literatura sobre este tema, encontrando pouquíssimos casos idênticos.
Há controvérsias quanto à utilização do termo "meningocele". A maioria concorda que este termo deva ser empregado mais adequadamente para definir uma herniação meníngea através de defeito ósseo craniano ou vertebral. Contudo, "meningocele intrassacral" enfatiza a presença de camada fibrosa e seu revestimento aracnóideo interno que compõe o cisto confinado ao canal sacral.
Diversas teorias têm sido formuladas com o objetivo de tentar explicar a origem do defeito; quatro hipóteses foram propostas como mais prováveis:
1 - Teoria do disrafismo: as anomalias são atribuídas a falhas do fechamento do tubo neural e/ou do mesoderma circundante em diferentes etapas do desenvolvimento embriológico. A formação inadequada do saco dural resultaria no defeito pelo qual a aracnoide pode herniar. Essa teoria é atualmente aceita como a mais provável.
2 - Teoria da ruptura dural adquirida: defeito da integridade da dura-máter causado por trauma, punção lombar ou cirurgia.
3 - Teoria proliferativa: proposta por Patten sugere que o tubo neural aberto poderia ser resultado de crescimento local, o que interferiria em seu fechamento.
4 - Teoria da falha na ascensão do saco dural: sugerida por Enderle, esta teoria propõe que ocorreria um defeito na migração cefálica do tubo neural e saco dural, com persistência de parte deste no interior do canal sacral.

Observa-se, nos casos relatados na literatura, discreto predomínio do sexo feminino, podendo a doença manifestar-se em qualquer faixa etária desde a infância até à oitava década. Em sua maioria, os pacientes permanecem assintomáticos até a vida adulta, sugerindo tendência ao crescimento progressivo. O aumento da pressão hidrostática liquórica no interior da lesão, secundário a um mecanismo valvar desenvolvido no sítio de comunicação com o saco dural, tem sido proposto para explicar tal crescimento. A compressão de raízes nervosas por um cisto volumoso parece ser a causa dos sintomas. A sintomatologia, de evolução crônica, apresenta-se frequentemente como dor lombar baixa de caráter intermitente ou progressivo, podendo irradiar-se para um ou ambos os membros inferiores, e disfunção vesical na forma de retenção ou incontinência. Menos frequentemente, parestesias, disfunção retal e impotência sexual também podem ocorrer.
Os achados físicos mais importantes incluem hipersensibilidade cutânea sacral, déficit sensorial em sela e/ou em membros inferiores, hipo ou arreflexia patelar e paresia dos membros inferiores. Flacidez esfincteriana anal e mielopatia também podem ser observados. Estigmas disráficos constituem associações comuns, podendo ser observados hipertricose ou pigmentação sacral, lipoma subcutâneo, seio dérmico, fossas sacrococcígeas e hiperceratose. Tem sido relatada a associação de meningocele intrassacral oculta e neurofibromatose. Aspecto interessante a ser considerado é o diagnóstico acidental de meningocele intrassacral durante investigação de hérnia discal. Nos casos em que há hérnia concomitante, a sintomatologia pode ser atribuída ao prolapso discal, fato comprovado após ressecção cirúrgica do tecido herniário.
Exames diagnósticos utilizados incluem radiografias simples da coluna lombossacra, mielografia, tomografia computadorizada (TC) com (mielotomografia) ou sem injeção de contraste intratecal e RM. As radiografias simples demonstram canal sacral dilatado, com margens escleróticas, além de eventuais anormalidades como, por exemplo, disrafismo espinhal. A mielografia, quando corretamente realizada, pode permitir o diagnóstico, demonstrando preenchimento da lesão pelo contraste, bem como o trajeto fistuloso. O estudo por TC demonstra mais nitidamente o alargamento do canal sacral, preenchido por massa hipodensa homogênea (LCR). Tanto na mielografia, quanto na mielotomografia computadorizada, o preenchimento da meningocele pelo meio de contraste pode ser tardio, especialmente quando o trajeto fistuloso é demasiadamente estreito, sendo importante à obtenção de imagens decorridas até 48 horas após a injeção subaracnoidea. A RM permite além da demonstração do cisto e do trajeto fistuloso (hipointenso em T1 e hiperintenso em T2), verificar o envolvimento de estruturas neurais. O custo do método permanece ainda como sua principal limitação.
O diagnóstico diferencial inclui tumores intra e extradurais, lesões discais intervertebrais, doenças inflamatórias, esclerose múltipla e sequelas de poliomielite.
A intervenção cirúrgica deve ser realizada tão logo o diagnóstico seja estabelecido, de modo a evitar lesão radicular irreversível ou alterações da medula espinhal. Recuperações completas ou parciais têm sido relatadas em praticamente todos os trabalhos revisados. A possibilidade de déficits crônicos e complexos, como disfunção vesical, deve ser considerada, sobretudo quando o tempo decorrido desde o início dos sinais e sintomas for longo. A abordagem cirúrgica inclui laminectomia sacral dorsal, podendo-se proceder a marsupialização, dissecção e remoção completa, simples descompressão óssea, ressecção parcial e, mais frequentemente, ligadura do trajeto fistuloso entre a meningocele e o fundo de saco dural normal. Esta última pode ser praticada através de abordagem endoscópica, minimizando riscos operatórios, quando as condições da fístula permitem esta abordagem. Existe controvérsia sobre a conveniência de se tratar cirurgicamente lesões assintomáticas, quando do diagnóstico acidental, reservando-se, dessa forma, uma abordagem definitiva apenas nos casos com sintomatologia progressiva e/ou crescimento da lesão demonstrado clínica e radiologicamente em investigações sucessivas.
Em conclusão, a análise da literatura torna evidente que as meningoceles intrassacrais ocultas representam lesões raras e complexas, podendo determinar sintomatologia variada decorrente de compressão radicular sacral. O diagnóstico pode ser firmado através dos modernos métodos atualmente disponíveis, destacando-se a mielotomografia computadorizada e, principalmente, a ressonância magnética. Em geral, uma abordagem cirúrgica correta permite recuperação dos déficits neurológicos. Entretanto, o diagnóstico deve ser realizado o mais precocemente possível, para evitar-se as lesões permanentes.

Diferenças entre Mielomeningocele e Meningocele

INTRODUÇÃO

As doenças que envolvem o tubo neural são responsáveis por um número considerável de pacientes no consultório do fisioterapeuta pediátrico.
O tubo neural normalmente desenvolve-se a partir da placa neural e começa a fundir-se aproximadamente no 27º dia de gestação e fecha-se no 28º dia gestacional, de forma que somente as extremidades do tubo permanecem abertas. O não fechamento adequado deste tubo é responsável pelo aparecimento de defeitos congênitos da linha média denominados de disrafismos. As malformações esperadas podem ser detectadas ainda intra-uterinamente, através da ultra-sonografia e de achados de elevados níveis séricos maternos de alfafetoproteína – AFP (ROWLAND, 1997).
Ainda não estão bem esclarecidos os fatores causais das malformações do tubo neural. Alguns autores acreditam que tanto fatores ambientais quanto genéticos podem estar envolvidos nesse processo. Stokes (2000), afirma que em estudos realizados na Grã-Bretanha, foi constatado que existe uma probabilidade de 1 em 20 após o nascimento de um filho com espinha bífida e que esta probabilidade aumenta se houver uma segunda criança.
Dentre as principais malformações do tubo neural, pode-se citar a anencefalia (ausência do cérebro, com defeitos associados no crânio, meninges e couro cabeludo); iniencefalia (cabeça retrofletida com defeitos da coluna vertebral); craniorraquisquise (necrose do cérebro e da medula secundariamente à exposição ao líquido amniótico); cefalocele (protusão parcial do cérebro por defeito do crânio); meningocele (defeito do crânio ou coluna vertebral associado a protusão meníngea); espinha bífida (espinha bífida oculta: defeito do arco vertebral; espinha bífida cística: herniação da dura-máter e aracnóide por defeito vertebral; mielomeningocele: herniação da medula e meninges). A espinha bífida é aquela que pode ser considerada menos grave, enquanto as outras praticamente não apresentam compatibilidade com a vida.

Espinha Bífida

1. Definição: 

Distúrbio do tubo neural (DTN), que gera malformação da medula espinhal ou coluna vertebral, geralmente a nível torácico e lombar, por não fechamento do tubo neural inferior (LONG & CINTAS, 2001).

2. Prevalência:

Rowland (1997), afirma que a prevalência é de 1 em cada 400 nascimentos, sendo que em um terço dos casos, a causa pode estar associada a fatores genéticos, enquanto que em 50%, a causa é desconhecida.

3. Tipos:

Espinha Bífida Oculta:

É considerada a forma benigna. Caracteriza-se pelo não fechamento do arco vertebral, sem que haja outro defeito associado, ou seja, não há envolvimento da medula espinhal, portanto, não há paresias, plegias ou outros déficits neurológicos. Normalmente está localizada a nível de L5-S1. O aspecto externo pode ser normal, uma vez que a integridade da camada epidérmica sem mantém, ou apresentar-se com tufos de pêlos, depressão, lipoma subcutâneo, nevo hemangiomatoso ou lesão circunscrita na pele. Costuma se manifestar com deterioração neurológica na infância e os déficits neurológicos manifestados podem ser decorrentes de lesões associadas – como a hidrocefalia (ROWLAND, 1997; STOKES, 2000; GREVE et al, 2001).

Espinha Bífida Aberta ou Cística:

É a forma mais grave. Caracteriza-se pela perda da integridade da camada epidérmica, de forma a deixar em contato com o meio externo estruturas do sistema nervoso, como medula espinhal e meninges. Verifica-se a presença de cisto na região dorsal, que pode romper-se durante o parto, deixando a medula e/ou raízes nervosas que são cobertas pela pia-aracnóide, em contato com o meio ambiente (DIAMENT, 1996). Encontra-se subdividida em:

Meningocele: Nesse caso, os arcos vertebrais não se fundiram como esperado, e existe herniação das meninges, que forma uma saliência que contém líquido cefalorraquidiano (LCR). O acometimento está restrito a pele, ossos e dura-máter. Este é um fenômeno considerado raro;






















Mielomeningocele: Mais grave e mais comum que a Meningocele, a Mielomeningocele acomete pele, ossos, dura-máter, medula espinhal e raízes nervosas, que podem se encontrar externamente ao canal vertebral;





















Espondilosquise: Esta forma é citada por Stokes (2000) que afirma ser a mais grave, já que o tecido nervoso (medula espinhal) encontra-se exposto na superfície da lesão, como uma placa achatada.
  

Mielomeningocele

  
1. Conceito:

  
Segundo Lucareli (2002), esta é uma das formas de disrafismo espinhal, ocasionada por uma falha de fusão dos arcos vertebrais posteriores e displasia (crescimento anormal) da medula espinhal e das membranas que a envolvem. As meninges vão formar um saco dorsal, o qual no seu interior contém líquido e tecido nervoso, provocando uma deficiência neurológica (sensitiva e motora) abaixo do nível da lesão, que podem gerar paralisias (principalmente flácidas) e hipoestesias dos membros inferiores.
  
2. Incidência:

  
SMITH apud SHEPHERD (1998) afirma que graças à queda na incidência de patologias como a poliomielite e a tuberculose osteoarticular, a mielomeningocele assume hoje o segundo lugar, ficando atrás apenas da paralisia cerebral, como responsável por deficiências crônicas do aparelho locomotor em crianças. A incidência varia em média um indivíduo afetado para cada mil nascimentos, embora possa haver uma variação de uma região para outra. Por exemplo, é muito mais freqüente em países anglo-saxônicos, onde a incidência pode ultrapassar de quatro indivíduos afetados para cada mil nascimentos, em determinadas regiões.

  
3. Etiologia:

  
A maioria dos autores considera que a mielomeningocele tem etiologia desconhecida. Porém, estudos mais recentes fazem uma associação entre a patologia e alguns fatores. Dentre eles:

  
Fatores Genéticos:

  
Esta patologia é mais freqüente em indivíduos de raça branca, com menor ocorrência nas raças negra e amarela. Outro fato importante é que casais que já possuem uma criança portadora de mielomeningocele possuem um risco maior de gerarem outra criança portadora dessa patologia;

  
Fatores Ambientais: 

  
Indivíduos pertencentes a um mesmo grupo étnico que migraram para outro continente apresentaram em seus descendentes uma incidência diferente dessa patologia, quando comparados ao local de origem;

  
Fatores Nutricionais: 

  
Mulheres que receberam complementação vitamínica com ácido fólico, apresentaram uma incidência muito menor de filhos portadores de mielomeningocele.

  
4. Anatomia Patológica:

  
Medula e Raízes Nervosas:

  
A medula espinhal pode se encontrar presa na parte inferior do canal vertebral, fazendo com que as raízes nervosas passem horizontalmente pelos buracos de conjugação, ao invés de se dirigirem para baixo. Isto pode causar uma série de deficiências, dentre elas: hiperreflexia, paresias musculares, diminuição de sensibilidade.    

Geralmente, as alterações acontecem abaixo do nível do tumor formado pela mielomeningocele.


Vértebras:


O defeito nas vértebras encontra-se nas lâminas e processos espinhosos, de forma que eles não se fundem na região posterior da vértebra, podendo, inclusive, estar ausentes.
  

Pele: 


A área da lesão não se encontra revestida por tecido cutâneo normal. No entanto, a área de tumoração é rodeada lateralmente e na base por cútis normal. A superfície pode apresentar ulceração ou tecido granuloso.


Cérebro:


A maior manifestação a nível de cérebro (mais de 80% dos casos), se dá sob a forma de hidrocefalia, que é resultado de uma estenose do aqueduto de Sylvius ou bloqueio do fluxo cefalorraquidiano entre o quarto ventrículo e o espaço subaracnóideo do cérebro, provocando dilatação dos ventrículos cerebrais, com consequente aumento da cabeça.


5. Manifestações Clínicas:


Os sintomas da mielomeningocele dependem da localização e do grau de extrusão da medula espinhal. As alterações neurológicas geralmente manifestam-se através de alterações motoras, sensitivas, tróficas e esfincterianas (CAMBER, 1988).

Levando-se em consideração que a mielomeningocele manifesta-se na grande maioria dos casos a nível da região lombossacra (L5-S1), os sintomas mais relatados na literatura, segundo Shepherd (1998), são:


·                     Paralisia flácida;

·                     Diminuição da força muscular;

·                     Atrofia muscular;

·                     Diminuição ou abolição dos reflexos tendíneos;

·                     Diminuição ou abolição da sensibilidade exterioceptiva e proprioceptiva;

·                     Incontinência dos esfíncteres de reto e bexiga;

·                     Deformidades de origem paralíticas e congênitas e;

·              Hidrocefalia (acomete 100% das crianças com mielomeningocele torácica; 90% das lombotorácicas; 78% das lombares; 60% das lombossacras e 50% das sacrais, segundo Diament, 1996).


Além desses sinais, podem ainda surgir outras manifestações secundárias a mielomeningocele, como:


·           Úlceras de decúbito, já que há perda de sensibilidade, má nutrição da epiderme e o paciente passa muito tempo na mesma posição (acamado ou em cadeira de rodas);

·            Alterações vasomotoras graves;

·            Osteoporose e com ela, fraturas;

·          Atraso do desenvolvimento mental, físico e psíquico, devido a incapacidade da criança de se locomover e explorar seu ambiente e relacionar-se com outras crianças;

·            Contraturas dos tecidos moles e;

·       Deformidades ósseas, devidas a falta de oposição à ação dos músculos, da gravidade e da postura.

  
Também podem ser constatadas uma série de outras anomalias congênitas associadas, como:


·                     Luxações da coxo-femural;

·                     Pé eqüinovaro;

·                     Presença de hemivértebras;

·                     Lábio leporino;

·                     Fenda palatina;

·                     Malformações cardíacas e;

·                     Malformações das vias urinárias.

  
6. Prognóstico:


O prognóstico da mielomeningocele está ligado ao nível da lesão, isto é, quanto mais alta for a lesão (nível da paralisia), pior será o prognóstico relativo a morbidade e mortalidade. Ele pode tornar-se ainda pior se houver hidrocefalia, deformidades da coluna ou ainda lesões adicionais somadas ao quadro (STOKES, 2000).


7. Diagnóstico:


Pode ser feito ainda intra-uterinamente pela ultra-sonografia ou pelo elevado nível de alfafetoproteína (AFP), que é a proteína circulante no início da vida fetal e encontra-se aumentada quando as membranas e superfícies vasculares sangüíneas fetais estão expostas e o tubo neural aberto.


8. Exames Complementares:


Radiologia Simples:


Geralmente o raio-X da coluna tem como finalidade a avaliação do grau de escolioses e cifoses, além de detectar anomalias ósseas nos corpos das vértebras e lâminas;



Tomografia Computadorizada (TC):


É muito utilizada para identificar as malformações anatômicas dessa patologia e;

Ressonância Magnética (RM):


Também se mostra de grande valia para a verificação de anormalidades na coluna vertebral e na medula espinhal, além de orientar o tratamento (ROWLAND, 1997).


9. Tratamento:


Muitos são os problemas decorrentes da mielomeningocele, os quais não podem ser considerados isoladamente. Portanto, faz-se necessário a integração de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, cirurgiões ortopédicos e neurológicos, fisioterapeuta, psicólogo e assistente social. É importante que os profissionais trabalhem de forma harmoniosa com a criança e seus pais, que são de fundamental importância para o bom andamento do tratamento.

9.1. Tratamento Cirúrgico:


No caso de mielomeningocele a cirurgia torna-se inevitável. É realizada para o fechamento da lesão e normalmente solicitada até 48 horas após o nascimento, já que se acredita que isso possa reduzir ao mínimo o risco de infecções e novas lesões medulares, as quais o paciente está suscetível. Consiste em técnicas microcirúrgicas que buscam a reconstituição anatômica da medula espinhal e a preservação da maior quantidade possível de tecido nervoso funcionante. Após isso, as costas devem ser cobertas com uma compressa úmida e estéril para que o saco formado pela dura-máter se epitelize (SHEPHERD, 1998 e STOKES, 2000).


É importante que a hidrocefalia, se presente, seja tratada simultaneamente, pois caso contrário, uma vez fechada a lesão, haverá aumento da pressão intracraniana, podendo levar a um extravasamento de LCR e não cicatrização da lesão. Normalmente ela é tratada com a implantação de um shunt ventrículo-peritoneal, cujo objetivo é drenar o LCR do ventrículo lateral para o peritônio, onde será reabsorvido.

9.2. Tratamento Fisioterapêutico:


Todas as crianças com mielomeningocele, por causa da lesão congênita dos nervos e da medula, apresentam alterações da força muscular em membros inferiores, podendo haver, ainda, algum comprometimento da musculatura do abdômen e da coluna. Em relação ao tratamento, é importante que pais e profissionais saibam que a melhoria da força dos músculos não depende da quantidade ou do tipo de exercícios que a criança realiza mas sim do grau e  o nível da lesão da medula e das raízes nervosas. Quanto menor for a alteração do movimento, maior será a probabilidade dos músculos serem fortalecidos. Por outro lado, os músculos sem movimento ou com fraqueza acentuada não podem ter  a sua força aumentada.

Independente do tipo de exercícios e atividades em que a criança participa, as principais mudanças na força dos músculos acontecem nos três primeiros anos de vida. É também neste período que a criança mais se desenvolve, e adquire posições motoras como sentar ou gatinhar dependem não somente da maturação do sistema nervoso central, mas também da força dos músculos do tronco e dos membros inferiores. Praticamente em todas as crianças com mielomeningocele essas aquisições ocorrem de forma mais lenta em decorrência, principalmente, da fraqueza muscular e das deformidades de coluna e de membros inferiores. Por exemplo, uma criança com mielomeningocele pode conseguir  gatinhar somente aos dois anos de idade, ao invés de gatinhar entre o nono e décimo mês como ocorre normalmente, ou, nem mesmo vir a gatinhar nos casos em que a fraqueza dos músculos for acentuada.

Durante o crescimento e desenvolvimento, os objetivos do tratamento se modificam e, portanto, o programa de tratamento modifica-se em função das necessidades de cada momento.

A meta do fisioterapeuta ao se deparar com uma criança com mielomeningocele ou qualquer outra doença do tubo neural, deve ser promover o desenvolvimento o mais próximo possível do normal, de acordo com suas limitações neurológicas, de forma a atingir o máximo de independência possível. Portanto, os objetivos da fisioterapia podem ser resumidos em: promoção das habilidades físicas que levam a independência, aquisição da mobilidade independente, seja deambulando ou através de cadeira de rodas e prevenção da instalação de deformidades.

A anamnese é de suma importância e deve ser realizada tão logo seja possível. Pormenores da gestação, parto e ocorrência familiar são fundamentais para o conhecimento de intercorrências e outros tipos de malformações associadas (DIAMENT, 1996).

O tratamento deve começar imediatamente e, segundo Stokes (2000), pode ser dividido de acordo com as fases da vida do indivíduo:


Período Neonatal:


O tratamento tem início com explicação aos pais sobre a natureza do problema, em linguagem clara e acessível. A utilização de desenhos e figuras facilita a compreensão das informações que se quer passar.

Neste primeiro momento, além dos cuidados com relação à bexiga neurogênica, a equipe deve dar especial atenção à estimulação do desenvolvimento motor e cognitivo. Os pais são instruídos quanto a exercícios e actividades de estimulação do desenvolvimento para serem realizadas diariamente, sempre que possível através de brincadeiras e no momento em que a criança estiver pronta a colaborar, lembrando que, o desenvolvimento processa-se das aquisições mais simples para as mais complexas. Por exemplo, para a criança conseguir sentar sem apoio é preciso que ela já tenha aprendido a fixar a cabeça e a rolar.

Para evitar deformidades, recomenda-se a mobilização das articulações e para algumas crianças indica-se o uso de órteses. No caso da criança apresentar fraqueza de tronco na posição sentada, indica-se o ortostatismo (posição de pé), com a ajuda de aparelhos objectivando melhorar a força dos músculos do abdomen e das costas. O ortostatismo com auxílio não previne deformidades da coxa-femural e joelhos, não melhora a força dos músculos das pernas e só deve ser recomendado até no máximo quatro anos de idade.

As crianças que só conseguem movimentar-se arrastando-se sentadas beneficiam com a utilização de um carrinho auto-propulsionável evitando assim lesões de pele e facilitando a locomoção dentro de casa e na escola. Este carrinho é indicado para crianças de dois a quatro anos de idade. Após esta faixa etária indica-se a cadeira de rodas infantil. A locomoção é importante para o desenvolvimento da criança, pois possibilita que ela explore o ambiente.

É importante que o fisioterapeuta realize uma avaliação minuciosa no paciente, principalmente de sensibilidade, motricidade, postura em repouso, movimentos ativos, anormalidades, deformidades e reflexos. Com isto, ele será capaz de implementar um programa de atendimento, baseado em movimentos passivos e alongamentos para manter ou melhorar a amplitude de movimento, manter o trofismo e a força muscular.

O desenvolvimento da criança tende a ser prejudicado pelo tempo que ela é obrigada a permanecer no ambiente hospitalar, devido as diversas cirurgias as quais pode precisar ser submetida (mielomeningocele, hidrocefalia, incontinência do aparelho urinário e luxação dos quadris). Logo, seu ambiente e seus movimentos serão limitados e escassos em estímulos, isto é, a criança com mielomeningocele, assim como as demais, precisa dos mesmos estímulos para o desenvolvimento de sua percepção e motricidade, os quais não são encontrados no hospital. Portanto, o fisioterapeuta deve orientar os pais a promoverem esses estímulos, orientar a mãe a carregar (e como fazê-lo) a criança constantemente, pois assim, está estimulando o controle cervical que não será conseguido se a criança permanecer a maior parte do tempo sobre o leito.

Nessa fase, as deformidades mais esperadas são o pé eqüinovaro (PEV) e a luxação congênita do quadril. O PEV da criança com mielomeningocele é tratado da mesma forma que o idiopático, embora precisem de cuidados especiais por causa da ausência de sensibilidade e má nutrição cutânea. Normalmente usa-se enfaixamento com bandagens de óxido de zinco, aplicação de talas corretivas e engessamento em série, o que requer cuidado, já que se trata de paciente com déficit de sensibilidade e má nutrição do tecido cutâneo. A luxação congênita do quadril também responde bem ao tratamento convencional (uso de órteses de abdução).


Período Pré-Escolar:


Neste momento os profissionais que acompanham a criança devem definir a capacidade funcional tanto para a locomoção quanto para as actividades de vida diária. Através da avaliação de parâmetros como desenvolvimento psicomotor, força muscular, deformidades, equilíbrio de tronco e capacidade para ficar de pé, o terapeuta começa a ter noção do potencial motor da criança. Algumas crianças vão conseguir andar longas distâncias, e outras, apenas dentro de casa ou na escola.

As crianças com potencial para deambulação podem necessitar de auxílios como muletas, nas fases iniciais do tratamento. As que têm fraqueza muscular acentuada não podem andar e necessitam de cadeira de rodas infantil para facilitar a participação na escola e actividades de lazer. Mesmo dentro de casa é importante que utilizem a cadeira de rodas para prevenirem lesões de pele que acontecem quando elas se arrastam no chão.

Para as crianças que andam, as órtoteses e as cirurgias ortopédicas podem melhorar a marcha. As órtoteses são indicadas para melhorar o posicionamento das articulações evitando deformidades e com o objectivo de que a criança alcance maior independência na marcha. As cirurgias ortopédicas não promovem ganhos do ponto de vista motor nas crianças com fraqueza muscular acentuada.

As actividades orientadas pela terapia funcional visando desenvolvimento e prevenção de deformidades passam a ser substituídas por actividades físicas tais como natação, basquete e dança em cadeira de rodas. Estas actividades favorecem não somente o fortalecimento da musculatura do tronco e de membros superiores, mas também a integração social. Os pais devem estimular a criança a participar das actividades de vida diária como alimentação, vestuário, higiene e transferência (da cadeira de rodas e para a cadeira de rodas) preparando-a para maior independência no período escolar. Quando a criança recebe ajuda excessiva, observa-se dependência mesmo para a realização de tarefas para as quais ela tem capacidade para realizar.

Nesse período, uma reavaliação deve ser feita, onde o fisioterapeuta deve pesquisar os grupamentos musculares ativos (ANEXO A), para que tenha noção de quais músculos poderá se utilizar para promover a independência dessa criança e quais os recursos que ela precisará para que isso aconteça.

O fisioterapeuta passa a visitar a criança em casa e a contar com o apoio dos familiares, que devem ser instruídos a realizar mobilização passiva de todas as articulações, a cada troca de fralda, com o objetivo de manter a amplitude e melhorar a circulação. Quando a criança passa a ter movimentos ativos na parte superior do corpo e membros superiores, estes devem ser estimulados. A criança, como todas as outras, deve ser colocada em todas as posições de decúbito dorsal, ventral e sentada, de forma a promover o desenvolvimento normal.

As dificuldades de percepção, função deteriorada da mão e indiscriminação de lateralidade, são responsáveis também por dificultar a deambulação, portanto, associado a um terapeuta ocupacional, deve implementar estratégias adequadas para a superação desses déficits.

A posição ortostática também deve ser estimulada, ainda que a marcha não seja atingida, pois diversos são os ganhos advindos desta conduta, como promoção da independência e da mobilidade, diminuição da ocorrência de úlceras de pressão, de obesidade e de contraturas.


Período Escolar:


As crianças que não conseguem andar até os seis anos de idade provavelmente não vão adquirir marcha, independente do tratamento fisioterapêutico, uso de órtoteses ou cirurgias ortopédicas. Neste período o enfoque deve ser, principalmente, o treino da independência funcional tanto para as crianças que andam quanto para as que não andam. Aspectos próprios da criança ou do meio ambiente influenciam a independência. Os factores que dificultam a independência relacionados com a criança são a falta de coordenação de membros superiores, déficit de equilíbrio, deformidades da coluna, obesidade e atraso cognitivo porque dificulta a aprendizagem de actividades. Quanto ao meio ambiente, o tamanho e o material da cadeira de rodas e barreiras como degraus, portas estreitas ou terrenos acidentados dificultam o uso da cadeira de rodas. O desempenho na escola é preocupação importante nesta faixa etária e as actividades desportivas devem fazer parte da vida da criança. Visitas escolares possibilitam avaliação de barreiras arquitetónicas e orientações quanto a colocação de rampas de acesso e adaptações em banheiros. Os professores devem ser esclarecidos quanto a patologia e estratégias para lidar com a criança em sala de aula.

Algumas das crianças que andam podem necessitar cirurgias nesta fase, principalmente para os pés, com o objectivo de melhorar o equilíbrio e o desempenho na marcha.

Na idade escolar, segundo Stokes (2000), a criança pode ter preferência por usar a cadeira de rodas, para facilitar seu deslocamento. Sendo assim, cabe ao fisioterapeuta ensinar à criança as habilidades necessárias para a independência. Para tanto, ela vai precisar de membros superiores fortes, o que pode ser conseguido por exercícios de fortalecimento em decúbito ventral ou na posição sentada, juntamente com um programa esportivo, que pode ser natação e basquetebol em cadeira de rodas. Isso também é importante no tocante a transferência da cadeira para a cama ou para o vaso sanitário, embora precise se orientado a ter cuidado com a pele anestesiada. A postura deve ser avaliada constantemente, já que o paciente em fase de crescimento tende a desenvolver deformidades na coluna, especialmente cifoses e escolioses.

Crianças que optam por usar bengalas ou muletas também precisam de atenção especial. Precisam ser treinadas, de preferência sobre colchões, como devem se apoiar ao caírem eventualmente.

Outro problema que acomete o paciente com mielomeningocele e pode ser um tormento na idade escolar é a incontinência do reto e da bexiga, principalmente nos pacientes com lesões lombossacras. Esses pacientes apresentam incontinência paradoxal ou por transbordamento, isto é, sua bexiga nunca se esvazia completamente: a urina começa a gotejar quando está cheia e a criança não manifesta sensação. O paciente maior pode ser treinado, através da compressão manual (compressão para baixo e para trás no baixo ventre), com o objetivo de favorecer a drenagem vesical O treinamento da evacuação também é bem sucedido, bastando um treinamento para que a criança seja capaz de evacuar a intervalos regulares.


Adolescência:


Nesta faixa etária, deve-se dar ênfase à socialização. A participação em atividades esportivas e atividades de lazer com amigos deve ser encorajada e facilitada pelos pais e professores. É importante, também, que o adolescente entenda o que é espinha bífida e suas implicações.

Durante esta fase, voltam a tona os problemas com a coluna vertebral, podendo ser necessário o uso de órteses.


Fase Adulta:


Na fase adulta o fisioterapeuta torna-se apenas um supervisor, pois se acredita que o paciente já seja capaz de cuidar de si próprio.

Os maiores problemas podem ser as úlceras de pressão e a obesidade, que podem ser controladas com orientações.


10. Órteses:


São elas que vão dar ao paciente a segurança necessária para que ele ganhe confiança e independência para que seja capaz de se locomover sozinho. Além disso, muitas são utilizadas para a prevenção de deformidades.

Stokes (2000), em seu quadro resumo, mostra quais são as órteses mais indicadas de acordo com o nível da lesão:

Nível da Paralisia
Equipamento Necessário
Acima de L1
Órtese toracolombar da coluna (OTLCV)
Órtese de joelho-tornozelo-pé (OJTP)
Órtese guia do quadril (OGQ)
Acima de L2
OTLCV
OJTP
Órtese lombossacra (OLS)
Abaixo de L3-L4
OLS
OJTP
Abaixo de L5
OJTP
Abaixo de S1
Órtese tornozelo-pé (OJP)


CONCLUSÃO

A mielomeningocele é a disrafia de maior implicação clínica, já que diferentemente das demais, as crianças afetadas por ela usualmente sobrevivem por longos meses ou anos, podendo atingir a idade adulta, isto graças aos avanços em antibioticoterapia, neurocirurgia e no controle dos problemas ortopédicos, urológicos e digestivos, que aliados ao aperfeiçoamento de centros de recuperação e reabilitação, proporcionaram significativo aumento na sobrevida das crianças com mielomeningocele.
Portanto, é muito importante que a equipe multidisciplinar incumbida de dar assistência a esses pacientes, disponha-se a tornar a vida deles o mais agradável possível, amenizando os danos aos quais estão suscetíveis.
Partindo do princípio de que se tenha um conhecimento amplo a respeito da fisiopatologia da doença, bem como as manifestações advindas com ela.

Lipomielomeningocele


A Lipomielomeningocele é uma malformação lesionária, congênita, associada a espinha bífida, que consiste de lipoma subcutâneo passando através de um defeito de fechamento da coluna vertebral. Resumindo, consiste em uma massa de gordura, geralmente coberta por pele, que se estende para a medula espinhal.

Em quase todos os casos existe uma lesão cutânea (lipoma subcutâneo, pelos anormais, manchas vinhosas, depressão feito covinha). O paciente pode apresentar massa na região lombar ou lombossacral, disfunção da bexiga, deformidade dos pés e fraqueza ou paralisia em membros inferiores. A disfunção neurológica pode ser causada por associação de medula presa e/ou compressão medular.
A radiografia mostra defeitos de fusão parcial ou completo da coluna e o diagnóstico de certeza é feito por Tomografia ou Ressonância.
A taxa de ocorrência de lipomielomeningocele foi estimada em 2,5 por 10.000 nascimentos. Sua ocorrência na região cervical é ainda mais rara. O defeito é mais comumente encontrada em mulheres. Uma herança autossômica também é sugerido para lipomielomeningocele.
A mielomeningocele torácica cervical e superior representam apenas de 1 a 5% de todo o disrafismo espinhal, sendo que a  lipomielomeningocele, como uma patologia da coluna vertebral congênita adicional é muito rara. A menos que existam outras anomalias significativas da coluna vertebral, como a medula presa, o risco de distúrbios miccionais e deterioração do trato superior é mínimo. Embora a intervenção precoce é recomendada, mesmo em casos com exames neurológicos normais, a fim de evitar a deterioração.
Os sintomas neurológicos são fraqueza, que pode causar atrofia nas extremidades inferiores, e incontinência.
O tratamento é cirúrgico e tem como objetivo desprender a gordura da coluna medular e reduzir o volume do tumor gorduroso.
O lipoma é removido como qualquer outro tumor no canal medular via laminectomia, que é uma cirurgia executada na porção inferior da coluna para aliviar a pressão numa ou mais raízes do nervo. O termo é derivado de lâmina (peça da proteção óssea do canal espinhal) e ectomia (remoção). O tratamento estético não previne contra o déficit neurológico e pode dificultar o tratamento definitivo.

Diastematomielia



É uma malformação embriológica rara que consiste na divisão da medula em duas "hemimedulas" iguais ou desiguais, por uma extensão variável, ocorrendo em situações de disrafismo espinal oculto ou "spina bifida aberta".
Nos casos de disrafismo espinal oculto, existe um esporão ósseo ou fibrocartilagineo, que são a sua grande maioria, podendo atingir a um patamar de mais de 90% dos casos. Quando este esporão existe, há um revestimento dural para cada hemimedula, que tem o seu revestimento aracnoideo próprio.
Existe associação da diastematomielia com anomalias vertebrais relacionadas com o disrafismo, tais como hemivertebras, fusão liminar, aumento do diâmetro interpedicular e, também poderá existir a escoliose congênita em boa parte dos casos.
Esta patologia se manifesta quer por anomalias relacionadas ao disrafismo, tais como tufo piloso, sinus dermal, escoliose, lipomas, nevus cutâneo, etc., quer por síndromes neuromusculosesqueleticas, relacionados com fenômenos de ancoragem medular.

Medula Presa



Medula ancorada (ou medula presa) é o nome que se dá a uma série de condições que têm em comum a baixa posição da porção terminal da medula, também denominada cone medular e que normalmente termina ao nível da primeira ou da segunda vértebra lombar. Na medula ancorada ele se situa abaixo da segunda vértebra lombar e, em alguns casos pode se encontrar ao nível do sacro. A medula presa ocorre em uma série de malformações congênitas associadas a espinha bífida, nas quais, como o próprio nome diz, a medula encontra-se fixada e imobilizada a tecidos adjacentes. Essas malformações congênitas se desenvolvem nas primeiras semanas da vida intrauterina. Em situações normais, durante o desenvolvimento embrionário, as vértebras crescem mais que a medula espinhal. Esta, em conseqüência, será deslocada para cima de modo que a sua porção final situe-se ao nível da primeira ou da segunda vértebra lombar. Na medula ancorada, isso não ocorre. A medula está anormalmente fixada a tecidos vizinhos (pele, tecido subcutâneo, meninges) por estruturas anormais (cicatrizes, nervos aberrantes, septos ósseos ou cartilaginosos, tumores congênitos, etc.), o que impede a sua ascensão. A medula presa encontra-se então anormalmente estirada, como se uma âncora a prendesse às porções mais baixas da coluna vertebral. 
Isso pode gerar sinais ou sintomas evidentes já por ocasião do nascimento. A criança portadora de mielomeningocele freqüentemente tem a medula presa e o ancoramento deve-se, não somente às cicatrizes que envolvem o local da correção cirúrgica, mas também a outras malformações congênitas associadas.
Outras formas de medula presa são a lipomeningocele (ou limpoma espinhal), o filamento terminal espessado (fibrolipoma do filamento terminal), a fístula neuroectodérmica, a diastematomielia (medula dividida por septos ósseos ou cartilaginosos) etc.
O exame do dorso da criança pode fornecer indícios que levem a suspeita da malformação: alterações cutâneas podem ser vistas sobre a espinha, geralmente nas regiões lombar ou sacra, podendo consistir em bolas de gordura (lipomas), manchas avermelhadas (hemangioma cutâneo), tufos de pelos, orifícios na pele, depressões cutâneas, verrugas, cicatrizes semelhantes a queimaduras de cigarros e até mesmo pequenas caudas. Os sinais e sintomas do ancoramento medular são variados. 
Os bebês podem se apresentar sem anormalidades aparentes ao exame inicial. Podem, todavia, se apresentar com pé torto, desigualdade no comprimento dos membros inferiores e bexiga neurogênica. As anormalidades podem se tornar evidentes somente quando as crianças começam a andar. Pacientes mais velhos, além das dificuldades para deambular, podem se queixar de dores na coluna ou nas pernas, além de formigamento ou anestesia em parte dos membros inferiores. As deformidades dos pés podem se tornar progressivamente mais acentuadas, pode haver escoliose (desvio da coluna) e alterações miccionais (urina presa, urina solta, cistite, etc.). Portadores de fístulas neuroectodérmicas podem se apresentar com meningites repetidas, devido à comunicação entre a pele e o sistema nervoso.
Crianças com mielomeningocele, de uma maneira geral, apresentam agravamento de problemas já existentes como: piora da marcha, progressão da escoliose ou demais alterações ortopédicas, mudança no padrão de bexiga neurogênica, dores ou sensibilidade exagerada sobre a cicatriz cirúrgica. Havendo suspeita de medula ancorada, o paciente deverá submeter-se a exames de imagem. O mais indicado é a Ressonância Nuclear Magnética, podendo ainda lançar-se mão da Tomografia Computadorizada ou mesmo da Ultrassonografia. Na maioria dos casos, o tratamento é cirúrgico e consiste em remover as causas do ancoramento.

Sinus Dérmico


Sinus Dérmico é uma fístula epitelial que se estende da pele para os tecidos mais profundos, podendo causar a comunicação com o espaço subdural e desenvolvimento de meningite.
O sinus dérmico congênito (SDC) é a lesão cutânea mais frequentemente associada ao DEO, e tem uma aparência externa aparentemente inócua. O SDC consiste de uma depressão cutânea ou trajeto que faz comunicar a superfície cutânea com estruturas mais profundas: fáscia espinhal, dura mater ou medula espinhal. Pode terminar no tecido celular subcutâneo sob a forma de fundo de saco ou comunicar com o canal vertebral e o espaço subaracnoideu.
O SDC pode surgir em qualquer posição da linha média do neuroeixo, desde o nariz até à região sagrada. As localizações preferenciais do SDC são áreas de confluência de vários ossos, sendo mais comum na região lombar e lombosagrada, acima da prega internadegueira, logo seguido do nariz e osso frontal (na junção dos ossos do nariz com os ossos frontais), e depois na região da charneira occipital O SDC é uma entidade clínica que frequentemente cursa com RX da coluna normal. Por outro lado este exame não permite visualizar as alterações dos tecidos moles associados, o que implicitamente nunca permitiria excluir DEO. A alternativa seria ter realizado ecografia espinhal.
Contudo a interpretação deste exame inócuo e não invasivo depende da experiência do profissional, sendo por vezes difícil a detecção do trajeto do seio dermóide dentro da gordura subcutânea.
O exame que se justificaria ter realizado no primeiro mês de vida era logo a RM lombossagrada devido à localização da fosseta (superior à linha inter-nadegueira) e à presença de tufo piloso, a sugerir antes um SDC e não uma banal fosseta sacrococcígea.
O diagnóstico diferencial do SDC coloca-se com as banais e benignas fossetas coccígeas ou sacrococcígeas, presentes em cerca de 4% da população normal e que não se associam a DEO 12,16. A presença destas fossetas isoladas, sem achados cutâneos adicionais, não requer avaliação imagiológica, cirúrgica ou tratamento. O acompanhamento periódico, com avaliação em regra limitada à anamnese e ao exame objetivo, será, contudo imprescindível.
A presença de lesões complexas na linha média – duas ou mais alterações cutâneas congênitas – constituídas por lipoma, fosseta, sinus dérmico, hemangioma, pelos aberrantes - é o principal fator predictor de DEO e não duma banal fosseta sacrococcígea. No diagnóstico diferencial entre SDC e fossetas coccígeas são essenciais à localização das lesões (a menos ou mais de 2,5 cm do ânus) e a presença de lesões simples ou complexas.
Os doentes com DEO devem ser seguidos até à puberdade, com observações neurológicas regulares. Poderá considerar-se a realização periódica de radiografias da coluna vertebral para rastrear o eventual aparecimento ou agravamento de uma escoliose. Alterações no exame neurológico podem dever-se a excisão incompleta do trajeto do seio, reancoragem ou crescimento tumoral, pelo que devem ser investigadas com RMN.
O prognóstico da criança com DEO depende do atingimento neurológico, das complicações ou sequelas existentes na altura do diagnóstico.
Se os defeitos anatômicos associados aos DEO não forem corrigidos, as complicações e sequelas vão surgir inevitavelmente mais tarde ou mais cedo, tais como infecções (meningite ou abscesso), crescimento tumoral com aumento da dificuldade de ressecção e aumento do risco de desenvolvimento de déficits neurológicos secundários.
Até ao momento, o acompanhamento desta criança revelou desenvolvimento psicomotor e cognitivo adequados à idade e com controle dos esfíncteres diurno e noturno.
Assim, a presença de estigmas cutâneos na linha média do neuroeixo merece especial atenção. Será da maior importância distinguir as fossetas sacrococcígeas benignas dos potencialmente ominosos SDC.

Será importante a avaliação imagiológica e referência precoce dos SDC a uma consulta de neurocirurgia pediátrica. A correção cirúrgica poderá prevenir/e ou preservar ou melhorar a função neurológica destes pacientes, que passará necessariamente pela sensibilização dos clínicos de forma a permitir o diagnóstico e intervenção precoces destas patologias e a evitar as suas potenciais sequelas.

Espinha Bífida Oculta (Oculta sem envolvimento neural)


Ou seja, a Espinha Bífida Oculta, ou sem envolvimento neural, é a espécie de espinha bífida que não produz nenhuma espécie de sequela significativa. Pode produzir déficit neurológico progressivo relacionado com a medula presa, de acordo com o crescimento e o desenvolvimento da criança.
As suas causas são agente Teratogênicos (ou seja, substâncias inaladas e/ou usadas pela mãe) durante a gestação.